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Blocos pedem até 36 mil reais em financiamento coletivo para ir à ruas

jussarasoares

Cordão do Boitatá faz financiamento coletivo para arrecadar 25 mil reais para seu desfile. Foto: reprodução

Cordão do Boitatá faz financiamento coletivo para arrecadar 25 mil reais para seu desfile. Foto: reprodução

Colocar um bloco na rua exige muito mais do que apenas vontade de reunir os amigos, se fantasiar e fazer uma festa ao ar livre para um monte de gente. É preciso dinheiro para pagar os altos custos da produção. E, como nem todos os 505 blocos do Rio de Janeiro e 384 de São Paulo conseguem patrocínio, o jeito tem sido recorrer aos financiamentos coletivos na internet e ''passar o chapéu'' entre  os foliões nas redes sociais. Os grupos estão pedindo  de 1 mil reais a 36 mil reais.

Na plataforma Catarse, oito blocos cariocas e quatro paulistanos tentam convencer seus fãs a apoiarem a ideia. No Kickante, outro site de crowdfunding, um bloco do Rio e três de São Paulo pedem para que seus fãs façam doações a partir de 10 reais.  Para hospedar essas campanhas, ambos cobram taxa de intermediação. No Catarse, é cobrado 13% do valor arrecado e no Kickante, 12%.

Fundado há 12 carnavais, o Agora Vai, de São Paulo, começou como uma brincadeira entre um grupo de amigos atores, músicos e produtores que se reuniam para desfilar no Elevado Costa e Silva, o popular Minhocão, em plena terça-feira de Carnaval. Na base do improviso, um levava o microfone, outro as caixas de som e outro emprestava um carrinho para carregar a parafernália toda. Acontece que a brincadeira cresceu. Em 2015, cerca de 7 mil pessoas seguiram o Agora Vai  e, neste ano, pela primeira vez eles terão que contratar um trio elétrico.

''O bloco cresceu e a gente precisa entregar uma qualidade de som melhor tanto para quem toca, quanto para quem nos acompanha'', diz Fábio Teixeira, produtor executivo do Agora Vai. Para pagar a conta, eles iniciaram uma campanha no Kickante para arrecadar 6 mil reais até o dia 6 de fevereiro. A 17 dia do fim da vaquinha, conseguiram 155 reais com doações de sete pessoas.

Para Fábio, o financiamento é uma opção para o Agora Vai não ter de recorrer ao patrocínio de empresas em troca de ter a  estampadas em suas camisetas e material de divulgação.  ''Não digo que o Agora Vai nunca terá patrocínio, mas enquanto pudermos ter essa opção de financiamento coletivo, assim seremos.''

Agora Vai, de São Paulo: bloco cresceu e recorreu à "vaquinha" para pagar carro de som. Foto: reprodução

Agora Vai, de São Paulo: bloco cresceu e recorreu à ''vaquinha'' para pagar carro de som. Foto: reprodução

Para estimular os blocos a fazerem arrecadações, o Catarse ministrou na última semana uma oficina sobre como fazer o financiamento coletivo e criou um apostila ensinando como criar campanhas mais atrativas.  Para alcançar a meta de 20 mil reais arrecadados, por exemplo, o Bloco Ritaleena faz paródias de vídeos que viralizaram na internet. ''Sempre tivemos uma relação muito boa com as redes sociais, por isso quisemos utilizar esses memes, como ''Já acabou, Jéssica?'' e ''Senhora?'', para estimular a doação'', explica Yumi Sakate, de 35 anos, uma dos fundadoras do Ritaleena, que homenageia Rita Lee.

O dinheiro, explica Yumi, será usado para pagar carro de som, fantasias e os músicos. Dos 20 mil reais pretendidos, o grupo alcançou 4.723 reais. As doações vão até o dia 30 de janeiro, dia do desfile. Em 2015, o Ritaleena teve sucesso no crowdfunding.  Pediu 7 mil reais e conseguiu pouco mais de 8 mil reais. ''O sonho é meu e da Alessa (cantora e fundadora do bloco), mas os músicos precisam se remunerados. Como o bloco cresceu, nossos custos aumentaram também'', afirma Yumi.

O tradicional bloco carioca Cordão do Boitatá, que neste ano completa 20 anos, também está recorrendo à ferramenta. O grupo, que desfila no dia 7 de fevereiro na Praça XV de Novembro, no Rio,  quer arrecadar 25 mil reais no Catarse.  Com a campanha na mesma plafataforma, a Banda Fuxico, que tem como público LGBT, fez o pedido de colaboração mais alto: 36.244 reais. Até agora apenas 130 reais foram doados. Por outro lado, o bloco As Virgens do Minhocão fez uma solicitação modesta de 1000 reais, dos quais já arrecadou 60%.

Uma das estratégias sugeridas pelo Catarse para atrair doadores  é oferecer recompensas. O Tarado Ni Você, que neste ano faz uma homenagem a Tieta, dá como contrapartida kit quenga, composto por bolsinha e um top, para quem dor 50 reais. Para quem investir 70 reais, ganha um lenço e um óculos para se transformar em Tieta. Para levar uma camiseta com frases como Sumpaulu ou a hashtag #somostodostieta, é preciso doar 90 reais. Apesar de divertidos, os brindes ainda não animaram os foliões. Dos 29 mil reais pedidos, apenas 1590 foram arrecadados.

Diretora de comunicação do Catarse, Vivian Costa afirma que as doações começam a esquentar com a proximidade do Carnaval. No entanto, mesmo os blocos que não atingirem suas metas conseguirão resgatar as doações. Isso porque a plataforma estreou com os blocos o modelo flex, que não necessita atingir a meta pretendida para usar o dinheiro. ''Os blocos vão sair de qualquer maneira, então qualquer dinheiro será um reforço extra no caixa'', afirma Vivian.

Todas as campanhas de financiamento coletivo de blocos estão disponíveis no site do Catarse e no Kickante.

 

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