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Arquivo : desliga da justiça

Do escritório para o trio elétrico: blocos transformam anônimos em artistas
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Celso Chagas: no trabalho, é jornalista, no Carnaval é o Coringa. Foto: PH Noronha/Divulgação

Celso Chagas: no trabalho, é jornalista, no Carnaval é o Coringa. Foto: Alexandre  Tavares/Divulgação

Durante o ano inteiro, em horário comercial, o jornalista  Celso Chagas, de 41 anos, se veste de acordo com as expectativas do trabalho na área de comunicação externa na Confederação Nacional do Comércio, no Rio de Janeiro. Em reuniões, não dispensa o terno completo.  Neste sábado (23), porém, a formalidade será deixada de lado. As cores sóbrias dos trajes cedem espaço para o roxo. O cabelo ganha tinta verde e, em quarenta minutos de maquiagem, se transformará no Coringa,  o vilão do Batman e um dos vocalistas do bloco Desliga da Justiça, que se concentra a partir das 9h, na Praça Santos Dumont, no Baixo Gávea, na Zona Sul carioca.

As caras e bocas, potencializadas pelo make-up artístico, fazem do jornalista um dos personagens mais fotografados do Carnaval carioca. “O Coringa ganha uma projeção muito grande. É uma diversão”, diz Celso, que desde 2009, quando o Desliga foi fundado,  concilia a jornada dupla de escritório e palco. No bloco, seus colegas de trabalho, como a cantora Joana Rychter e os cerca de 80 ritmistas, também se apresentam caracterizados de heróis e vilões.

Em São Paulo, Camila Rondon, de 36 anos,  diretora de comunicação corporativa, também concilia a rotina de escritório com vida de artista de Carnaval. O vozeirão a colocou em cima de um trio elétrico, em 2014, e de lá  ela não saiu mais. Discreta no trabalho, se solta no palco como a vocalista do Chega Mais, bloco cujo repertório e fantasias são dedicados aos Anos 80. Em 2015, desfilou de Chiquinha, a personagem do seriado mexicano “Chaves”.  Em 2016, vai encarnar “Elvira, Rainha das Trevas”, personagem-título do filme de 1988.  “Eu realmente me preparei para isso. Quando reunimos os amigos, só falamos das nossas fantasias. É engraçado”

Camila Rondon, do Chega Mais: usa sobrenome diferente no trabalho para evitar ser reconhecida. Foto: reprodução

Camila Rondon, do Chega Mais: sobrenome diferente no trabalho para não ser reconhecida. Foto: reprodução

 

No trabalho, a versão Coringa de Celso não é um segredo. Aliás, ele aproveitou o envolvimento com a música para montar uma banda com os colegas.  Já Camila prefere evitar o assunto. “Trabalho 12 horas por dia. Isso é o meu lazer. Tem gente que joga vôlei, eu canto em bloco” argumenta.  Para não ser reconhecida no mundo corporativo como cantora de Carnaval, ela até usa profissionalmente o seu outro sobrenome (que, obviamente,  pede para não ser divulgado). “Mas já aconteceu de um cliente dizer que me viu cantando vestida de Chiquinha. Morri de vergonha”, confessa a cantora, que é comparada à Ivete Sangalo pelos amigos. Nas redes sociais, eles usam a hashtag #muitomelhorqueivete.

Tanto Celso como Camila são fãs de Carnaval desde criança, mas só após os 30 passaram a participar da festa. Ele, apesar de portelense e nascido em Madureira, tinha uma banda de rock e blues na adolescência. Ela, que sempre virou a noite assistindo pela TV aos desfiles das escolas de samba,  cantava o jazz e MPB.   Ambos só entraram em contato com o universo dos blocos ao ingressarem na oficina de percussão do Quizomba. Ele, em 2007,  aprendendo surdo no Rio de Janeiro. Ela, em 2013, estudando tamborim em São Paulo.

“Durante a oficina, conheci muitos músicos e passei a cantar na roda de samba dos amigos de modo descompromissado”, conta Celso Chagas, que chegou a se apresentar como cantor no Quizomba.  A primeira experiência de Camila junto com uma bateria ocorreu no  show de lançamento de seu cd, no Tom Jazz, em 2013. “Foi um evento para 200 amigos e cantei um samba com a bateria do Quizomba.”

Daí para se tornarem cantores oficiais de um bloco, bastou os amigos criarem um grupo e os convidarem para assumir o microfone. “O que a gente ganha no Desliga é muito mais do que dinheiro. Tudo o que fazemos é por amor”, diz Celso, que reserva os sábados para os ensaios com o bloco. “Tenho saudade de cantar MPB e jazz, mas bloco é muito leve. Vou para os ensaios encontrar meus amigos e me divertir”, afirma Camila.

Fundado no fim de 2013, o Chega Mais desfila neste Carnaval no dia 30 de Janeiro, por volta das 13h, na Avenida Santos Dumont, no intervalo das apresentações de Bangalafumenga e Sargento Pimenta.  “Sempre cantei para meus amigos, mas cantar para uma multidão, sempre dá um frio na barriga”

 


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