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‘Cálice, filhinho de papai’, diz marchinha em defesa de Chico Buarque
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jussarasoares

 

O episódio em que o cantor e compositor Chico Buarque foi hostilizado, no dia 21 de dezembro, por um grupo de jovens antipetistas no Leblon, bairro da Zona Sul carioca, terminou em marchinha de Carnaval.  Os músicos mineiros Vitor Velloso e Marcos  Frederico trataram de sair em defesa do artista com uma composição que remete a clássicos de Chico, como “Cálice”, “Vai Passar” e “Vai Trabalhar Vagabundo”.

Publicada na manhã desta segunda (4), a marchinha já teve quase 70 mil visualizações no Facebook.  A composição, que chama os antipetistas de “patriota de araque”, até tenta apaziguar a guerra entre “petralhas” e “coxinhas”. A única coisa que não pode, segundo a canção, é mexer com Chico. “Você pode ter sua opinião/E pode discordar do Chico/Mas se for pra tirar satisfação/É melhor você fechar o bico”, diz a letra. A marchinha se encerra com versos para fazer qualquer fã de Chico aplaudir: “Não vai passar! Não vai!/Intolerante, nem por um segundo/Cálice filhinho de papai!/Vai trabalhar vagabundo!”  Entre os rapazes que abordaram Chico Buarque estavam o rapper Túlio Dek, ex-namorado de Cléo Pires, e Alvaro Garnero Filho, o Alvarinho, filho do empresário e apresentador Alvaro Garnero.

Vitor Velloso, um dos compositores da canção, é também o autor da marchinha do Pó Royal, que fez sucesso no Carnaval de 2014.  A letra, que adverte que qualquer semelhança com pessoas, acontecimentos e fatos reais é mera coincidência, grudou na cabeça de muito folião e fez sucesso nos blocos de Minas Gerais, terra do senador Aécio Neves. “O pó rela no pé, o pé rela no pó/esse pó é de quem tô pensando?/ Ah, é sim/ Ah, é sim!”    “Não sou ligado a nenhum partido político. Meu negócio é usar a política para fazer humor”, garante.

Confira abaixo a entrevista de Vitor Velloso ao Blog do Bloco:

Blog do Bloco –  Por que fazer uma marchinha para defender Chico Buarque?
Vitor Velloso –  Acredito que todos os músicos, artistas e grande parte da sociedade se indignaram com os ataques ao Chico. Independentemente da posição política que ele assume, é, sem dúvida, um patrimônio nacional. Quando chegamos ao ponto de resumir a biografia de uma pessoa a “é petista então não presta” me parece que estamos levando as coisas longe demais. Por isso, a minha indignação e a vontade de fazer um desagravo também. Além disso, quando ouvi a notícia, estava no Japão e no mesmo dia eu havia conhecido um japonês que era fã da obra do Chico. Isso me motivou mais ainda.

Você também é autor da marchinha do Pó Royal, muito associada ao senador Aécio Neves. Não tem medo de ser chamado de ‘petralha’?
Isso é uma sina. Não me identifico com o PT, nem com o PSDB. Faço parte de um grupo de solitários do Brasil que estão fadados a serem chamados de “petralha” por metade da sociedade e de “coxinha” por outra. Espero que essa polarização infantil faça parte do amadurecimento político.

Você ouviu a marchinha do Japonês da Federal? Acha que a sua será tão popular quanto ela neste carnaval?
É uma marchinha bem legal, que teve um timing sensacional. Publicamos a nossa hoje e está indo bem. Não explodiu no Youtube, mas já tem quase 70 mil visualizações no Facebook.

Qual é a receita para se fazer uma marchinha para viralizar?
Marchinha tem que ser simples e divertida. É música pra se ouvir meia vez e já decorar. O tema tem que ser atual e envolvente. No caso da composições politizadas,  quando o refrão fala alguma coisa que todo mundo tem vontade de gritar, de desentalar da garganta, melhor ainda.

A marchinha do Pó Royal te deu muita dor de cabeça?
Um pouquinho, mas deu muito mais diversão do que qualquer coisa. Rende boas risadas até hoje
Nenhum político nunca te procurou?
 Não. Acho que são tímidos.

 

Não enche o saco do Chico
(Vitor Velloso e Marcos Frederico)
Se encontrar o Chico na rua
E não tiver nada pra dizer
Talvez seja melhor ficar na sua
Ou achar outro saco pra encher
Você pode ter sua opinião
E pode discordar do Chico
Mas se for pra tirar satisfação
É melhor você fechar o bico
Não phode, Não phode
Playboy, patriota de araque
Não pode Não pode
Encher o saco do Chico BuarqueVoc
Não vai passar! Não vai!
Intolerante, nem por um segundo
Cálice filhinho de papai!
Vai trabalhar vagabundo!

Concurso de marchinhas da Fundição Progresso recebe inscrições até dia 5
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jussarasoares

Melhor marchinha de 2016 será revelada na abertura do Carnaval da Lapa. Foto: Paprica Fotografia

Melhor marchinha de 2016 será revelada na abertura do Carnaval da Lapa. Foto: Paprica Fotografia

O  tradicional Concurso de Marchinhas da Fundição Progresso, na Lapa no Rio de Janeiro, está com inscrições abertas até o dia 5 de janeiro. O vencedor será revelado na abertura do Carnaval da Lapa, no dia 6 de fevereiro, e leva o Prêmio Noel Rosa,  autor de “Pierrô Apaixonado” (com Heitor dos Prazeres) e  outros clássicos da folia. A melhor marchinha do Carnaval 2016 ganha também 10 mil reais, e o segundo lugar, 3 mil reais. A competição, que está em sua 11ª edição, é considerada a mais importante do gênero no país.

Compositores brasileiros acima de 18 anos podem concorrer com até três músicas carnavalescas inéditas e de tema livre.  Menores de idade só podem participar como parceiros. Para se inscrever, é preciso cadastrar a música e enviar o áudio (formato MP3) no formulário disponível no  site oficial do Concurso de Marchinhas. Quem não é músico profissional também pode participar e as gravações não precisam ser feitas  com acompanhamento de instrumentos. Desde que seja possível identificar a melodia e a letra, basta a voz do autor ou intérprete.

O concurso acontece em duas etapas. Na fase classificatória, um júri especializado escolhe cinco músicas, que serão divulgadas no dia 15 de janeiro. Na fase final, o público vota pela internet, entre 23 de janeiro e 6 de fevereiro, quando a campeã será revelada na abertura do Carnaval da Lapa.

Concurso de marchinhas da Fundição Progresso está em 11ª edição. Foto: Paprica Fotografia

Concurso de marchinhas da Fundição Progresso está em 11ª edição. Foto: Paprica Fotografia

Desde que o concurso foi criado, mais de 9500 músicas foram inscritas na disputa idealizada pelo presidente da Fundição Progresso, Perfeito Fortuna. Em uma década, as canções retrataram modismo, eleições, religião, politia internacional, epidemias e outros assuntos que estão na agenda dos brasileiros.  “O mundo vive um momento muito duro e o brasileiro tem essa capacidade de carnavalizar a vida. A gente carnavaliza até para entender o que está acontecendo”, diz  Perfeito Fortuna.

No último concurso (2015), a pernambucana “Adoro celulite”, de Jota Michiles e Gustavo Krause foi a grande campeã. Em segundo lugar ficou a marchinha carioca “Marchinha literária, de Roni Valk”, e o terceiro lugar foi da paulista “Fucei seu Feice”, de Paulo Padilha.


Após japonês da PF, pedaladas de Dilma e carta de Temer inspiram marchinhas
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jussarasoares

A crise política pela qual passa o país tem se mostrado um fonte inesgotável de inspiração para o advogado Thiago de Souza, de 36 anos. Depois de alcançar o sucesso com a marchinha “Japonês da Federal”, ele agora tenta repetir o êxito com as pedaladas da presidente Dilma Rousseff (PT) e a carta do vice Michel Temer (PMDB).

Veja o vídeo:

As novas canções carnavalescas, publicadas na quarta (9) no Youtube, não são tão explícitas quanto a que brinca com o agente da Polícia Federal Newton Ishii, figura recorrente nas prisões da Operação Lava Jato.  Entretanto, não precisa ser um exímio leitor do noticiário político para entender de quem as músicas falam. Dilma, por exemplo, virou “Tia Wilma e a Bicicleta.” “A tia Wilma pedalou por todo mundo/E agora já não tem pra onde ir” diz a letra da música, cujo refrão-chiclete é mais grudento que a do Japonês. “É Ciclista… tia Wilma é ciclista/Pedalando ela é celebridade/Na ciclovia, tira onda de artista.”

Já a carta de  Michel Temer enviada à Dilma virou “Guarde Bem a Sua Cartinha. O  latim usado em uma citação com a qual o vice-presidente inicia o texto (“Verba volant, scripta manent”, que significa “as palavras voam, os escritos permanecem”) motivou o primeiro verso da canção. “Meu latim com você não gasto mais…”  A  marchinha trata-se de uma resposta da destinatária ao remetente da correspondência.“Eu não vou ficar sozinha/ Pra sempre eu hei de ser amada/E você… Meu ex-amor/Será motivo de piada”

Veja o vídeo>

A ideia de seguir usando a política como inspiração veio após o sucesso da marchinha “Japonês da Federal”,  que foi criada para participar de um concurso da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. O vídeo da música sobre o agente federal  foi visto mais de 200 mil vezes no Youtube e compartilhado milhares de vezes nas redes sociais desde que foi publicado no dia 3 de dezembro.

“Fiz a música do japonês sem intenção de viralizar. Minha ideia era só falar daquela figura emblemática, que todo mundo conhece, mas ao mesmo tempo sabe muito pouco”, explica Souza, que assinou um contrato com a editora de música Irmãos Vitale pela marchinha do japonês. “A meta é que ela seja tocada no Carnaval de todo o Brasil.”

Neto de um sambista e de um autor de literatura de cordel, o advogado, que trabalha em São Paulo e mora em Campinas, é compositor nas horas vagas e  tem em seu currículo 50 sambas. É o autor do samba-enredo de 2015 da Dragões da Real, do Grupo Especial de São Paulo, e há três anos emplaca suas composições como música oficial da escola Morro da Casa Verde, do Grupo de Acesso paulistano. “Até a marchinha do japonês, só tinha feito uma na vida.”

Agora que alcançou o sucesso, porém, promete que não vai parar de compor os versinhos curtos e irônicos sobre a política. “O que tiver de notícia, eu vou escrever. Só paro se o japonês bater na minha porta”, diverte-se.


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