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Em SP, novos blocos surpreendem e estão entre os que mais atraíram foliões
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jussarasoares

Tô de Bowie: ideia inicial era reunir 200 pessoas.Foto: Rogério Casemiro/UOL

Tô de Bowie: ideia inicial era reunir 500 pessoas. Foto: Rogério Casemiro/UOL

A ideia inicial era modesta: reproduzir músicas do ícone pop David Bowie em caixas de som colocadas dentro de um carrinho de supermercado e arrastá-lo pelas ruas de Santa Cecília, na região central de São Paulo.  A meta era reunir 500 amigos com raios pintados no rosto,  inspirados na capa do disco “Alladin Sane” (1973) . Se o público chegasse a 2000 pessoas, os idealizadores do Tô de Bowie – Antonio Renato de Souza, Luiz Eduardo Franco e Cauê Yutti –  já se credenciariam para falar que o bloco estava ” bombando.”  No entanto, na tarde de terça (9), quando o bloco foi às ruas pela primeira vez o que se viu foi um infinito mar de gente. De acordo com números consolidados pela Secretaria Municipal de Cultura, 40 mil pessoas estiveram no cortejo.  A variação fica entre 35 mil (mínimo) e 45 mil (máximo), o que torna o Tô de Bowie, fundado por três foliões que se aventuraram na produção de eventos, o quinto maior bloco da cidade.

A ideia de um bloco em homenagem ao compositor e cantor inglês virou um fenômeno na internet. Mesmo antes da morte de Bowie, no dia 10 de janeiro, o desfile já tinha 8 mil confirmados no Facebook.  Com o falecimento do ídolo, as confirmações se multiplicaram. O evento alcançou 31 mil confirmados e outros 42 mil interessados em participar. Tamanho interesse acendeu o alerta nos organizadores e na própria prefeitura. Os idealizadores do bloco, que conseguiram o patrocínio de uma cervejaria, correram a contratar um trio elétrico e montar às pressas uma banda.  Os 11 músicos só tiveram tempo suficiente para adaptar seis canções de Bowie em marchinhas, entre elas “Rebel Rebel” e “Young American”.  No resto do tempo, os foliões foram embalados por DJ com canções de Bowie, Iggy Pop, Lou Reed e Beach Boys.  Já a administração pública, para evitar o caos, mudou o trajeto: o cortejo, que inicialmente seria na Santa Cecília, saiu da Praça Princesa Isabel, passou pela Avenida Rio Branco e seguiu em direção ao Vale do Anhangabaú.”Nossa estrutura é muito pequena,  não imaginávamos o que o bloco iria virar. Acho que as pessoas ficaram curiosas com a proposta”, diz o maquiador Antônio Renato de Souza, de 27 anos.

Na frente do Tô de Bowie no ranking dos eventos que mais atraíram foliões, apenas blocos com assinatura de produtores profissionais e com famosos. No topo da lista, está Acadêmicos do  Baixo Augusta, do produtor e apresentador Ale Youssef, que atraiu no mínimo 120 mil e no máximo 180 mil pessoas.  O número “realista” com o qual a secretaria de Cultura prefere trabalhar é de 150 mil.  Bangalafumenga/Sargento Pimenta, da Oficina de Alegria, e BlocoON com Sidney Magal, produzido em parceria com uma cervejaria, atraíram de 50 a 60 mil pessoas. Já o Monobloco, produzido pela Pipoca.Co, arrastou entre 40 e 50 mil. (Veja abaixo a lista completa abaixo).

 

Domingo Ela Não Vai: axé retrõ no centro de São Paulo. Foto: Gero/Estadão Conteúdo

Domingo Ela Não Vai: axé retrô no centro de São Paulo. Foto: Gero/Estadão Conteúdo

O Tô de Bowie não foi o único a estrear com o status de “megabloco”.  Domingo Ela Não Vai e Desmanche, ambos dedicados ao “axé retrô”, tiveram um público médio de 40 mil foliões (variação estimada entre 30 mil e 45 mil) dançando ao ritmo de É o Tchan, TerraSamba e Tchakabum, no centro da capital no domingo (7). Ficaram à frente do balado Tarado Ni Você, que homenageia Caetano Veloso e reuniu em média 30 mil pessoas no sábado (6). “O axé com coreografias já não é tão forte, mas depois de algum tempo as coisas tendem a ficar cult. São músicas da nossa infância. E quem não viveu essa época está descobrindo que gosta. Faltava um pouco de axé em São Paulo “, diz o jornalista e roteirista Alberto Pereira Jr., de 29 anos, criador do Domingo Ela Não Vai  junto com o amigo Rodrigoh Bueno, de 32 anos.

Inicialmente, a dupla tinha a expectativa de reunir 500 pessoas no desfile, mas as festas de “esquenta”‘ realizadas no Jongo Reverendo, na Vila Madalena, mostraram o potencial de sucesso. Na primeira delas, no dia 16 de janeiro, uma fila de 700 pessoas ficou para fora sem conseguir participar da festa.  No dia do desfile, a multidão fez com que o cortejo, que sairia do Praça do Patriarca para Teatro Municipal, fosse alterado na última hora. A prefeitura orientou que o bloco seguisse pela Libero Badaró até o Vale do Anhangabaú. Sem patrocínio, o bloco estreou com DJs tocando os hits em sua versão original.   “Chegamos a orçar uma mini-banda, mas não era um passo que podíamos dar”, explica.   Os sócios na folia investiram 6 mil reais no novo negócio para contratar trio elétrico, decoração e DJ. Daqui para frente, porém, a proposta é seguir com o bloco no Carnaval e realizar festas ao longo do ano. “Nunca foi só uma brincadeira. A ideia é fazer eventos com bandas para lembrar a época de ouro do axé”, conta Alberto.

Organizadores do Bloco do Desmanche estimam 100 mil pessoas no Centro de São Paulo. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Desmanche: com o sucesso do bloco, produtores querem fazer festa ao longo do ano. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Outro bloco que quer prolongar o sucesso do Carnaval é  o Desmanche, produzido pelo curador artístico Roger Zanardo, o Rogermultiuse, de 32 anos, e o empresário Ronaldo Rinaldi, de 31 anos, conhecido como DJ Click e dono de três casas noturnas na Rua Augusta, “A gente pretende alugar estacionamentos abandonados e fazer festas nos feriados”, adianta Rogermultiuse. Sem planejamento, o Desmanche  foi criado porque os organizadores viram, no fim de 2015, a divulgação da prefeitura anunciando o cadastramento dos blocos.  O público estimado na ocasião era 3 mil pessoas. Só no Facebook, 20 mil pessoas confirmaram presença. “Quando vimos a Rua Augusta tomada de gente, nos demos conta que foi o melhor dia da nossa vida”, diz Rogermultiuse. Diante do fenômeno de público, os produtores já pensam em ter dois trios elétricos para garantir som de qualidade aos foliões.

Em 2016, 355 blocos se cadastraram para desfilar na cidade. Foram 95 a mais que em 2015, o que aponta que o paulistano está  mais interessado em produzir sua própria folia. “É uma tendência da cidade que as pessoas queiram blocos mais próximo delas”, acredita Bonduki, que comemora o fato de blocos paulistanos terem se tornado protagonistas da festa. “Os blocos de fora perderam a primazia. O Carnaval da cidade está ganhando uma identidade própria.”

 

Ranking de público nos principais blocos de São Paulo

BLOCOSMínimo (em mil)Realista(em mil)Máximo (em mil)
Acadêmicos do Baixo Augusta120150180
Bangalafumenga e Sargento Pimenta505560
BlocON com Sidney Magal505560
Monobloco404550
Tô de Bowie354045
Ilú Obá De Min (dois desfiles)354045
Domingo ela não vai304045
Desmanche304045
Tarado ni você253035
Bastardo (foram 4 desfiles)203036
Casa Comigo202530
Pilantragi202530
Agrada gregos182025
Maluco Beleza (Alceu Valença)151820
Gambiarra151820
Chá da Alice151820
Unidos do BPM151820
Ritaleena101518
Bregsnice101518
Confraria do Pasmado101215
Espetacular Charanga do França101215
Bloco Urubó81012
Agora vai81012
TOTAL609741856

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo


Baixo Augusta se firma como maior bloco de SP e quer dois desfiles em 2017
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Alessandra Negrini é rainha de bateria do Baixo Augusta. Foto: Junior Lago/UOL

Alessandra Negrini é rainha de bateria do Baixo Augusta. Foto: Junior Lago/UOL

De endereço novo, o Acadêmicos do Baixo Augusta, que neste ano trocou a Rua Augusta pela Rua da Consolação, encerrou seu desfile na noite de domingo (31) como o maior bloco de São Paulo. De acordo com números da secretaria de Cultura, foram cerca de 130 mil pessoas.  A multidão fez os organizadores estimarem, no auge da festa, em 200 mil foliões. “Vamos ficar com o número oficial. Estamos felizes de sermos o primeiro bloco  a ultrapassar a barreira de 100 mil pessoas em São Paulo,  ainda mais em um dia repleto de outras opções. A cidade mostrou que está apaixonada pelo Carnaval de rua, que está redescobrindo essa paixão antiga que vem desde a época dos cordões”,  disse o produtor e apresentador Ale Youssef, presidente do Baixo Augusta.

Ainda sob o efeito do desfile, os organizadores do bloco já pensam em 2017.  A ideia é que o Baixo Augusta passe a fazer dois desfiles no próximo ano: um no pré-Carnaval e outro durante o Carnaval. “A intenção é fazer o último desfile para encerrar o Carnaval. Talvez na Quarta-feira de Cinzas”, adianta Youssef.

Para o produtor e agitador cultural, a tendência é que, com a consolidação do Carnaval de rua em São Paulo, os blocos maiores passem a se interessar também pelos dias oficiais de folia. “É importante que os blocos grandes passem a ocupar também o período do Carnaval”, defende.

Público estimado na Rua Consolação foi de 130 mil.

Público estimado na Rua Consolação foi de 130 mil pessoas.

Fundado em 2009, o Baixo Augusta se tornou uma organização não governamental no final de 2014.  Neste ano, seu tema foi “Família Augusta”, um protesto ao Estatuto da Família que tramita no Congresso. “A força do Baixo Augusta é ter um um espírito ativista. As pessoas abraçam a causa”, diz Youssef.

Para o secretário municipal de Cultura Nabil Bonduki, o destaque do Baixo Augusta, originalmente paulistano, como maior bloco é a consolidação do movimento carnavalesco com a participação dos moradores.  “O Baixo Augusta não é de fora. Isso mostra que os grupos da cidade estão cada vez mais se consolidando, com cidadania e o envolvimento das pessoas”, observa.

Entre os blocos com filiais em São Paulo, o carioca Monobloco, cuja bateria paulistana tem 130 ritmistas, levou  90 mil pessoas para o Ibirapuera, segundo a Polícia Militar. Já o pernambucano Alceu Valença se apresentou sábado (30) para 40 mil foliões, também na região do Monumento às Bandeiras.  A Avenida Tiradentes reuniu, segundo a prefeitura 40 mil pessoas no sábado, para a apresentação do trio Bangalafumenga, grupo carioca de bateria paulistana; o Sargento Pimenta, do Rio de Janeiro, e o paulistano Chega Mais.  Os organizadores falam em 80 mil.

Na Avenida Brigadeiro Faria Lima, o Casa Comigo, fundado na Vila Beatriz, atraiu uma multidão no sábado (30). De acordo com estimativas da Secretaria de Cultura, foram 30 mil pessoas. Para os organizadores, 55 mil. Já o Confraria do Pasmado, que encerrou seu desfile no Largo da Batata, atraiu 20 mil pessoas, segundo os números da administração pública. Já a direção do Pasmado estima que até 40 mil pessoas passaram pelo evento.

Os números preliminares apontam que 600 mil pessoas participaram do Carnaval de Rua em São Paulo. Os dados finais devem ser contabilizados nesta terça-feira (2).

 


Alessandra Negrini desfila como noiva em protesto ao Estatuto da Família
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Alessandra Negrini: rainha de bateria do Baixo Augusta desde 2013. Foto: Nelson Antoine/Folhapress

Alessandra Negrini: “Nunca me chamaram para escola de samba. Os  blocos me interessam mais”. Foto: Nelson Antoine/Folhapress

Em seu quarto ano como rainha de bateria do Acadêmicos do Baixo Augusta, a atriz Alessandra Negrini vai desfilar pelo centro de São Paulo no próximo domingo (31), às 14h, ‘vestida para casar’. A fantasia de noiva será uma homenagem a todas as formas de amor. Em 2016, o Baixo Augusta, que se apresenta como um bloco ativista, tem como tema “Família Augusta, de Todo Jeito nos Gusta” e protesta contra o Estatuto da Família – projeto de lei que tramita no Congresso Nacional e quer definir como família apenas a união entre homem e mulher.

“O vestido de noiva é para simbolizar que todo mundo tem o direito de se casar com quem quiser. Estão tentando tirar os direitos civis de pessoas do mesmo sexo estabelecerem uma união. Estão nos bombardeando e vamos desfilar fazendo esse manifesto. Toda a forma de amor nos gusta”, diz a atriz. A fantasia ainda está sendo finalizada pela stylist do bloco, Flávia Brunetti.

Uma das primeiras artistas a participar dos blocos de São Paulo e uma das figuras mais fotografadas da festa popular, a atriz paulistana – acredite – nunca despertou o interesse de nenhuma escola de samba. “Nunca me chamaram”, conta. Mas ela confessa que prefere as ruas aos sambódromos.

“Não tenho essa vontade também. Tem que se preparar muito, aprender a sambar de verdade, malhar, estar magérrima. A ‘vibe’ do bloco é outra. É a diversidade, é ser feliz, ocupar as ruas. Isso me interessa mais”, explica a atriz. Alessandra admite já não fazer tanta questão de ‘pular Carnaval’, mas não abre mão de desfilar pelo bloco. “O Baixo Augusta é sagrado. Tenho muita afinidade. É um bloco ativista, paulistano e a favor da diversidade.”

Para a atriz, os blocos foram fundamentais para a retomadas dos espaços públicos. “A cidade estava triste, sem vida. E, agora, os paulistanos estão aprendendo a se divertir na rua também. E nós do Baixo Augusta, que é um bloco ativista, participamos dessa redescoberta.”

Fundado em 2009, o Baixo Augusta tem como presidente o apresentador e produtor Ale Youssef. O cantor Wilson Simoninha é o diretor musical. Para o desfile de 2016, a expectativa é atrair 120 mil pessoas.

Desfile do Acadêmicos do Baixo Augusta
Dia: 31 de janeiro – domingo
Horário: 14h
Local: Rua da Consolação, entre a Avenida Paulista e a Antônio Carlos.
Gratuito.


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